quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Gabriela Fernandes nº13

Bomba Quack!

            Era um belo dia de sol. Que dia de sol o que!? Nunca é um dia de sol quando se é um pato, amarrado a um crocodilo mal-reencarnado que está gostando muito de te ter bem coladinho e dentro de um esgoto que nos liga ao futuro, ou seja, a minha situação no momento. Parece que chegamos, saímos do túnel do esgoto e crock deu um gritinho feliz, e me disse que a ajuda estava próxima. Perguntei aonde e ele me apontou uma casa, pequena, num bairro comum que caímos. Tudo era tão diferente, bem, quando se mora numa ilha, em 1920, tudo é diferente, só o fato da rua ser asfaltada já é uma novidade, mas como estávamos acostumados a andar pelo tempo, esse mundo futurístico não nos é tão estranho. Como você acha que virei pato-bomba? Ver a guerra no Iraque acontecer algumas vezes seguidas acaba influenciando nossa cabeça.
            Mas voltando para história, entramos discretamente na casa e logo avistamos uma menina, de olhos muito azuis e cabelos escuros, ela mexia em seu computador muito distraída. Chamamos por ela, que aparentemente não ficou muito feliz em ver-nos, pois nos respondeu gritando e nos atirando uma grande apostila, foi difícil acalmá-la, ela não parava de se mexer e quase me mordeu, mas como crock, com toda a sua fofura de crocodilo de dois metros sabe imobilizar alguém muito bem, logo a cobrinha estava amarrada. O que não impedia que ela fizesse um escândalo. Que semi-réptil barulhenta! "miou" crock já arrastando a menina para o esgoto, de volta para a nossa ilha, doce ilha.
            Ao estacionarmos em nossa terra começamos a explicar o que realmente havia acontecido. Pra começar, pedimos que ela se apresentasse, mas para facilitar, Crock se apresentou primeiro todo feliz, ele não foi sempre assim, do lado rosa da força, ele era um crocodilo como outro qualquer, até que em um dia, durante uma viajem, trombamos com um grupo de fantasmas que passava pelo mesmo túnel do tempo que nós, e meu amigo devido a algum fenômeno que nem Deus explica, serviu de corpo para um deles, pelo jeito, um não tão homem assim. A garota então disse que se chamava Miranda, sem sobrenome, e nos ameaçou caso não fossemos direto ao assunto. Depois da "amigável" apresentação dela contei-lhe, contra a minha vontade, já que Crock me obrigou, a minha triste história. Caso você ainda não saiba, meu nome é Patonaldo, sou um pato-bomba, nem tão feliz em conhecê-la, disse, emburrado. Tenho origem humilde, e trabalho com meu dono fazendeiro na nossa mini-fazenda no exato centro da ilha, ao lado do mini-vulcão, cultivando mini-milhos, e adestrando mini-vaquinhas. Porém, esse pequeno trabalho não nos dá muito dinheiro, ao contrario dos gastos comigo e com as maquiagens Avon do meu amigo, que são altos, o que pode falir nosso empreendimento. E é por isso que eu quero me matar, para não aumentar os gastos de meu dono, que precisa diminuir seus gastos.
            Quando terminei de contar a minha bela história, ao invés de comovida, a menina me olhava com raiva, até mesmo desprezo. Respirou profundamente e disse:
-Primeiramente, isso é burrice, - disse a garota- depois, quem no mundo, em sã consciência faria uma coisa dessas? Ao invés de pensar em formas de se matar, porque você não pensa em formas de melhorar a vida nessa sua ilha? Alô! Você viaja no tem-po, poderia muito bem arrumar algo de útil para se fazer nesses anos que virão!
            Isso mesmo Pato, você viaja tanto, nós nunca passamos fome, até estamos nos restabelecendo. Por que você ainda quer morrer? Disse meu dono, eu acho, é difícil entender o que ele diz.
-Patonaldinho, acho que você deveria rever seus conceitos, sério, morrer por pobreza?
            E novamente a garota cobra tentou me fazer mudar de ideia, como se isso fosse possível, não quero morrer em um frigorífico, depois de ser vendido pelo meu dono como toda a minha família, por mais que ela tente, não irá conseguir. Cansei de enrolar, adeus mundo cruel, papai, mamãe, ai vou eu, estou chegando dentro de 5 minutos, disse e apertei o botão da bomba.
            Certo então, você quer mesmo morrer... Okey, vou competir contra o relógio da sua bomba, quem te mata primeiro... Só pergunto uma coisa, você ficaria com vergonha de morrer literalmente depenado? Perguntou-me calmamente a menina enquanto chegava perto de mim com uma tesourinha. Começou a arrancar minhas penas, uma a uma. Pedi que parasse, não iria aguentar mais 2minutos desse relógio, fazer o que? A culpa foi minha por comprar uma bomba que demora tanto. Pedi a Crock que a imobilizasse novamente, mas, por incrível que pareça, ele disse não. “Já que você quer morrer, pelo menos facilita estar depenado, ajuda a assar, e, além disso, não gosto de cobras, principalmente essa daí, ela me assusta.”
            Ela continuava tirando uma por uma, certas vezes sibilava algo que parecia com um “vou fazer um leque novinho, oba!” ou, “não são penas de ganso, mas até que são bem fofinhas”. Isso começou a me assustar muito, como uma menina podia ser assim tão psicótica e com uma cara tão doce?
            Ia ficando cada vez mais assustado, não se pode mais morrer em paz? Reclamei. Após isso o pouco que sobrava de minha coragem se foi, junto com os números da contagem regressiva, porém, a bomba não estourou, me deixando confuso. Todos ao redor ficaram pasmos e, em seguida, recebi um forte puxão. A semi-réptil me segurou pelo pescoço, disse que agora sim me mataria com as próprias mãos, e começou a me enforcar, era muito forte, de um modo assustador, em seguida, arrancou a bomba colada a mim, acabando com qualquer possibilidade de uma futura tentativa de suicídio.
            Ela teria me matado, caso meu amigo, Crock, grande imobilizador de pessoas, não a segurasse, quando eu já estava ficando roxo. Após isso, tive de lhe prometer que nunca mais iria tocar em uma bomba, e Crock jurou me proteger eternamente. Oh não, isso será mais um motivo para aquele crocodilo-gay-mal-reencarnado ficar colado em mim, literalmente. Mas como eu não quero ser ameaçado por uma cobra maluca novamente, eu corro o risco de cair na lábia de um crocodilo do lado rosa.
            Enfim aquela maluca foi embora, pelo mesmo lugar que voltou, o esgoto. Pelo menos ficou tudo bem, por enquanto.

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