terça-feira, 30 de agosto de 2011

Gulherme Oliveira Nº:16

Chute Certo

Oi. Como vai você? Eu vou bem. Depois do que eu tive que passar quando um estranho apareceu na minha casa, agora eu vou muito bem. Vocês querem que eu conte o que aconteceu naquele dia? Mesmo assim eu vou contar.
Antes de começar a história eu preciso dizer algumas informações básicas, como, por exemplo, eu sou pato e vivo com meu dono, que eu chamo carinhosamente de papai, na pequena e deserta ilha de Manjalé. Agora vamos começar com a história.
Em um dia como qualquer outro, eu estava nadando no lago que fica perto da minha cabana. Fiquei um bom tempo lá. Quando eu ia sair, um forte clarão surgiu no céu. Por um instante fiquei com medo de que aquilo fosse mais uma bomba que esqueceram de explodir na I Guerra Mundial e destruísse a ilha. Fechei bem forte os olhos. Quando eu resolvi abrí-los, um humano estava bem na minha frente com cara de paisagem. Sem nenhuma reação.
Eu só queria saber como ele apareceu na ilha se o único humano daqui era o meu papai. Fiquei encarando ele e ele me encarando de volta. Depois de 5 minutos se encarando, os dois começaram do nada a dar risada. Mas ele riu primeiro, então eu ganhei.
Perguntei a ele o seu nome. Ele disse que se chamava Felipe. Apresentei-me também. Em seguida ele me perguntou onde estava. Respondi com um muito orgulho:
___ Você está na grande e muito bela Ilha de Manjalé.
Ele disse que nunca tinha ouvido falar dessa ilha. Meu orgulho foi por água abaixo.
Então eu resolvi apresentá-lo a ilha, mas antes iríamos passar na minha cabana para que ele conhecesse meu papai. No caminho, perguntei como ele havia chegado na ilha. Ele disse que não sabia. Antes de chegar lá ele estava consultando uma vidente para ver o seu futuro. Disse que olhava fixamente para uma bola de cristal. Depois disso não se lembra de mais nada a não ser de uma voz dizendo “não chute!”. Só depois eu entenderia o porquê dessa voz.
Ele perguntou como o meu dono havia chegado na ilha. Eu contei a história do meu papai para ele. Meu pai era rejeitado no lugar onde morava. As pessoas não gostavam de conversar com ele pelo fato de ser fanho. Então ele resolveu roubar um barco e navegar sem rumo pelo mar aberto. Num dia de tempestade, ele acabou chegando aqui por acidente. Quando me viu, me chamou de Wilson. Desde aquele dia ele cuidava de mim.
Chegamos à minha cabana. Meu papai estava dentro dela, descansando. Felipe olhava os objetos que decorava a minha casa com um olhar estranho. Perguntava-me onde ficava um tal de computador. Até hoje eu não sei o que é isso. Ele resolveu falar com o meu papai para que ele dissesse onde estava o computador. Papai falou assim:
___ (fanhoso) O que isso?
Ironicamente, Felipe perguntou em que ano estávamos. Papai respondeu de novo:
___ (fanhoso, de novo) 1920.
___ Ah... O que?!? ___ Disse Felipe, que não havia entendido o que meu papai falou.
Depois de repetir quase 20 vezes, eu resolvi falar para ele que era 1920. Felipe começou a ficar nervoso, pálido, babando... Olhou fixamente para mim e me chutou sem nenhum motivo.
Apesar de eu ter realizado o meu sonho de voar, não gostei nada do que ele tinha feito. Depois de meia hora, quando eu consegui voltar para a minha cabana, encontrei
Felipe chutando todos os objetos da minha casa. A minha coleção de conchas que eu demorei três anos para junta voltou para o mar em três segundos. Foi o limite. Eu tinha que conseguir um jeito de tirá-lo da ilha. E eu sabia como fazer isso.
Fui atrás do meu antigo amigo, o crocodilo Croquete, um especialista em formar planos para qualquer situação. Ele me disse para matar o estranho com uma bomba que ele conseguira da Revolução Russa, já que era descendente de russos.
O plano, chamado de operação pato-bomba, era ficar próximo de Felipe, jogar a bomba nele e sair correndo. Infalível. Ele estava lá, parado. Sem mais nada para chutar. Era a hora certa.
Joguei a bomba nele, mas quando ela chegou próxima a Felipe, não explodiu. O plano iria dar errado, até que ele, percebendo que era uma bomba, resolveu se matar. Se eu soubesse que iria ser assim nem teria tentado matá-lo. Perdi meu tempo. Mas no momento estava dando certo.
Felipe olhava aquela bomba como se ela representasse algo muito importante para ele. Começou a olhar fixamente para ela. Eu conhecia aquela expressão. E aconteceu exatamente o que eu pensei.
Felipe chutou a bomba segundos antes de ela explodir. Foi mais forte do que ele. Em seguida, outro clarão no céu. Idêntico ao primeiro que começou toda essa história. Quando abri meus olhos, ele não estava mais lá. Desapareceu da mesma forma como chegou. Fiquei sem reação.
De certa forma, eu sinto um pouco de saudade daquele dia. Foi diferente da rotina de todos os outros. Penso que não deveria ter sido tão intolerante com aquele rapaz. Felipe Rodrigues, o homem que foi salvo pela sua mania que o tornava diferente de todos os outros. Se ele tivesse morrido a história ficaria mais interessante. Eu também acho isso. Mas o destino não quis que fosse assim.
Agora Manjalé está de volta ao normal. Acho que vou descansar agora na minha cabana e... Não pode ser! Outro estranho?! Esse eu mato! Esperem pela próxima história, que irá acontecer agora.

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